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Sangue suga

Eu ia limpar o viveiros das coelhas, e encontrava uma sangue suga enorme no chão, bem perto.
Eu ficava curiosa e com nojo ao mesmo tempo. Resolvi que nao ia tirar, que ia esperar o inseto sair sozinho, porém começo a pensar na sangue suga grudando nas coelhas... e na minha imaginação, eu me vejo penteando os animais enquanto sangue sugas pequenas estão grudadas nelas em diversos locais.
Resolvo tirar a sangue suga do chão e jogar no lixo. Fim.

Coelhos

As 5 coelhas que estão em casa eram adotadas numa feira de adoção, uma a uma, e eu voltava para casa sem nenhuma, feliz por elas terem arrumado um lar. Fim.

Professor de ingles

O presidente da Câmara resolvia que ia largar a política e seguir seu sonho: dar aulas de inglês. E todos os funcionários da Câmara eram obrigados a ir em suas aulas.
Eu fui escalada para ir na aula da noite, mas como eu estava com preguiça resolvi enrolar no banheiro. Quando sai, percebi que tinha uma fila enorme de pessoas esperando apertadas para entrar, entre elas uma colega de trabalho que falava ao celular sobre um podcast que ela participaria.
Eu estava com saia jeans bem curta uma blusa branca, e eu pensava "nossa, como eu cabi nessa roupa?", então me olhava no espelho e eu era bem magrinha. Fim.

Vó indo embora de ônibus

Minha vó era minha faxineira. Então ela terminou o trabalho e ia embora, eu ofereci de leva-la até o ponto de ônibus e ela disse que não pegava mais ônibus porque o degrau é muito alto e ela tinha dor nas pernas, então ela vai embora de metrô mesmo tendo que andar mais da estação. Fim.

O médico transtornado

Uma viagem programada, um fim de semana romântico para comemorar seus 30 anos de casados. Uma cidade do interior não muito pequena, hotéis confortáveis e preço acessível. Um casal no carro como tantos outros, mas essa viagem se tornou diferente de qualquer outra.

Eles chegaram a noite, a intenção era ter esse tempo para descansar da viagem, e acordar cedo no dia seguinte para aproveitar melhor a cidade.
Estava tudo especialmente vazio, não se via vivalma, fato que acabou sendo creditado ao provincianismo local.
Chegaram ao hotel fazenda, que ficava no meio de uma estradinha de terra. A luz fraca vinda de um poste iluminava a entrada em arco, cheio de flores coloridas. O portão estava aberto, escancarado.

Estacionaram o carro em frente a uma espécie de guarita, as luzes estava acesas mas ninguém apareceu. Desceram, tocaram a campainha, nada. Parece que as coisas tinha sido largadas assim de repente, pois havia um computador ligado e até um copo de café frio no balcão.
Esperaram. Como ninguém apareceu, eles se esgueiraram atrás do balcão e pegaram a chave do chalé que haviam reservado. Resolveram que iam dormir e depois explicariam, afinal já estavam cansados e passava da meia noite.

No dia seguinte, acordaram cedo como planejado. Repararam que não havia outros carros e nem outros hóspedes. Foram ao restaurante onde um café da manhã seria servido: fechado. Na guarita, ninguém, o café frio continuava no mesmo lugar da noite.

Pegaram o carro e foram para a cidade, não sem antes tirar toda a bagagem do chalé e coloca-la de volta ao porta malas.
As ruas, a praça central, a igreja matriz. Tudo deserto, parecia uma cidade fantasma. Ligaram o rádio, apenas estática.
Rodaram as ruas da cidade, apesar da beleza do lugar a apreensão só aumentava, e finalmente resolveram voltar pra cidade grande.
Enquanto se dirigiam a estrada, viram um carro, correndo. Seguiram.

Era um carro bonito, esportivo. Ele subia uma rua bem larga, cheia de casas enormes, tão bonitas e caras quanto o automóvel.
Parou na frente de uma casa bem grande, provavelmente a mais bonita que já viram pessoalmente, com um quintal enorme sem muros.
Um homem de trinta e poucos anos saiu meio cambaleante do carro e entrou na casa, aparentemente a porta não estava trancada porque ele não usara chaves.

O casal se entreolhou, e com aquela comunhão de idéias que só pessoas que convivem há muito tempo tem, não precisaram falar nada: os dois resolveram que iam atrás do homem e satisfazer sua curiosidade sobre o que estava acontecendo.

A porta estava entre aberta. Era uma casa espaçosa, com decoração clean de móveis claros e paredes brancas. Uma parede era inteiramente de vidro e era tudo tão luminoso que quase doía os olhos. Parecia mais um laboratório do que uma residência.
 A casa ao invés de ser construída para cima, tinha um projeto peculiar, e o andar adjacente era para baixo, o que talvez explicasse a necessidade de tanta luz.

De onde entraram podiam ver que o homem, que usava um jaleco branco, estava no andar de baixo. Cochicharam entre si que deveria ser um médico.
Era possível vê-lo se movimentando de forma meio atribulada, derrubando ocasionalmente coisas no chão, provavelmente enquanto fazia as malas.
Ele falava, mas não era com outra pessoa. A voz que ele fazia ao falar não era uma voz que um homem adulto usa numa conversa normal, era algo meio infatilizado, ele parecia alguém falando com um cachorro.

- Você vai ficar bem, guinha. A gente vai dar o fora daqui antes que alguém faça qualquer coisa com você. A gente vai se recuperar...

Eles desceram as escadas, que ficava no meio da sala de estar e tinha degraus bem largos onde cabiam confortavelmente três adultos ao mesmo tempo. O andar abaixo tinha uma série de bancadas e recipiantes de vidro com líquidos coloridos.
Quando o médico os viu, ele se assustou, procurou algo para se defender e não achando, jogou uma mala de viagem aos pés do casal, gritando.

- Vocês não tem direito de levá-lo embora. Não estou no laboratório, estou em casa, eu tenho direitos!
A esposa começou a falar:
- Calma, não somos ladrões. Só queremos saber...
Ela foi interrompida pelo médico, que corria de um lado pro outro, e gritava:
- Não são ladrões, são do governo, dá na mesma. Vocês não podem levar o Guinha, ele não fazia parte da pesquisa. Eu deixei todos os outros no laboratório que vocês queimaram! Eram mais de 100, e vocês queimaram todos! Não vou deixar vocês matarem o Guinha. Eu vou conduzir minha experiência de maneira independente agora.

Enquanto falava, ele ia cada vez mais recuando, em direção a uma porta que tentava fechar. Pelo ângulo certo, foi possível observar o que tinha dentro daquele cômodo.
Era um banheiro com uma grande banheira. Dentro dessa banheira havia um líquido azul fosforescente e boiando nessa água turva havia uma formiga... uma formiga de quase 2 metros de comprimento!
À visão dessa aberração o esposo ficou assustado. Apesar de estar na meia idade, ainda era forte e se jogou em cima do médico, subjugando-o ao chão. Trancou a porta atrás deles, em pânico, gritando:
- Cuidado, aquela coisa ia te pegar!
- Aquela coisa é o Guinha! Ele é inofensivo...
Enquanto o médico proferia essas palavras, o homem o soltou um pouco, o que o fez colocar as mãos no rosto e chorar, incontrolavelmente.

Agora de perto, puderam observar que o médico estava com olheiras enormes, cabelo ensebado e até um pouco fedido. Parecia uma pessoa a beira do desespero e do cansaço.
A esposa sentou no chão junto deles, e o casal consolou o jovem até que ele conseguiu parar de chorar e, convencido de que eles nada mais eram do que visitantes curiosos, contou-lhes a história, ainda em meio a soluços eventuais.

O médico era um cientista que trabalhava num projeto secreto de uma parceria publico-privada entre o governo e uma grande empresa farmacêutica. A idéia era manipular o DNA de algumas espécies nativas para que, em contato com certos produtos químicos inofensivos ao seres humanos, os animais perdessem determinados atributos, principalmente a vontade de comer alguns tipos de plantas muito usadas na agricultura ou até mesmo materiais da construção civil.
Era um projeto pioneiro, que substituiria os tão temidos agrotóxicos e venenos da dedetização convencional, e que possibilitariam colheitas melhores e menor perigo de cupins e outras pragas urbanas.

Porém, o produto era muito caro. Na tentativa de barateá-lo, a empresa tirou um dos compostos de segurança, que impediam os animais de criarem mutações espontâneas em cima das mudanças genéticas.
Os testes iam muito bem, até que resolveram experimentar nas formigas. Elas tem um apetite voraz, e na tentiva de alterar esse paladar em seu DNA, uma outra cadeia da sequência foi afetada. Sem a trava que impedia a mutação, elas desenvolveram uma série de características indesejadas, entre elas o tamanho descomunal e a mudança de alimentação, que passou de açucar e fungos para carne.

Essa nova preferência alimentícia foi descoberta quando algumas formigas gigantes coordenaram um ataque a um dos cientistas, comendo-o por inteiro em apenas alguns segundos. O local foi colocado em quarentena, e logo depois destruído por completo.
O que eles não sabiam era que muitas formigas de tamanho comum escaparam do prédio, mas carregavam dentro de si a falha no DNA latente, só precisavam entrar em contato com o produto ativador.

Ao construírem suas colônias, algumas espécies de formiga criam fungos para poder se alimentar. Embora cativos, as vezes os fungos conseguem dominar algumas formigas e fazem com que elas trabalhem para tirá-los de lá e arrumem um lugar novo para viverem, são conhecidas pela ciência como as formigas zumbis.
 Por uma coincidência sinistra, esses fungos tem como habitat ideal lugares que são ricos em certos compostos químicos, os mesmos que desencadeiam a mutação das formigas.

O estrago estava feito e uma nova espécie de formigas gigantes e carnívoras foi criada. Porém, não eram formigas livres, e sim insetos autômatos, dominados por um fungo. Por sua vez, os fungos mantiveram o mesmo crescimento de antes, o que impossibilitou-os de dominar essas formigas por completo dessa vez.
A natureza, em sua tentativa irrefreável da manutenção da espécie mais apta, deu um jeito na situação, transformando a relação predatória dos fungos e das formigas numa espécie de mutualismo. Agora, as formigas carregam os fungos como hospedeiras intermediárias, mas ao se alimentarem transmitem assim os fungos para seus hospedeiros definitivos: os humanos, transformando-os em zumbis com características insectóides, pois é dessa forma que os fungos conseguem controlá-los.

O problema começou na noite anterior, e a cidade foi evacuada, mas o ataque não foi contido e está se espalhando numa escala sem precedentes.

Guinha, corruptela de formiguinha, é uma formiga gigante que o médico criou em casa por achar divertido. E agora é o último espécime das formigas mutantes não-zumbificada por fungos, e resta nesta formiga e no médico a última esperança da humanidade de controlar o ataque dos zumbis insecta.

Tocados pela dedicação do médico a essa causa, e vendo que o que aconteceu nessa pequena cidade  é apenas uma amostra do que vai acontecer no mundo todo, o casal resolve ajudar o médico.

E assim eles ganharam um presente de casamento inesquecível: a chance de salvar o mundo. Fim.