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Fim do mundo

Acontecia algum tipo de fim do mundo na Terra, mas o mundo não acaba de vez, ele ia acabando aos poucos.
Eu estava com outras pessoas, andando por aí, procurando um lugar para ir ou ficar. Não havia mais governo, nem organização, nem infra estrutura básica (energia elétrica, água encanada, meios de comunicação, etc).

Era final de tarde. Andamos até um lugar onde haviam trilhos de trem. Eram vários trilhos, mais de 10. Ficamos pensando em como fazer um trem funcionar, e vimos que haviam um tipo de plataforma de carga andando bem devagar no último trilho.
Talvez essa plataforma funcionasse a partir de algum tipo de energia mecânica, como aquelas alavancas para mover carrinhos em trilhos.

Avançamos por sobre os trilhos, havia algumas crianças com o grupo. Eu reparei que eles tentavam passar por baixo dos trilhos, corri até elas e as impedi de fazer isso.
Mostrei que iriam ficar esmagados lá embaixo conforme as pessoas passassem por cima, e enquanto falava isso e mostrava, vimos pedaços de dedos de mãos humanas naquele local, como se alguém tivesse colocado a mão ali e perdido os dedos.
As crianças se assustaram e obedeceram.

Continuamos andando em direção aos trilhos, quando chegamos, todos sentaram na plataforma. Eu fiquei bem na frente, queria ver para onde iríamos.
O trilho continuava um pouco mais a frente ainda em terra, e depois era elevado e passaríamos por cima da cidade. Isso nos daria uma noção maior do que acontecia.

Então o Rê me disse que queria ficar lá atrás, que queria descansar e que haviam colchonetes no final. Eu disse que ele podia ir, mas eu queria ficar na frente, vendo tudo. Ele acabou ficando comigo e dormiu de maneira desconfortável ali mesmo.

Enquanto a plataforma andava, víamos pessoas maltrapilhas lá embaixo, andando de um lado para o outro, procurando no lixo algo que pudessem usar. E havia muito lixo. As lojas foram todas saqueadas, casas invadidas, janelas quebradas, portas arrombadas.
A visão era muito deprimente, e torci para que ninguém tivesse vendo. Quando olhei para trás, vi que a maioria das pessoas estavam dormindo, de tão cansadas, e fiquei feliz por eles não terem visto aquilo.

A plataforma continuou em movimento por mais um bom tempo, muitas e muitas horas, era noite. A paisagem foi mudando, da cidade foi indo para o interior, e vi que estavamos descendo a serra. Passamos por sobre a mata atlântica, e aos poucos pude avistar a praia.

Quando chegamos na praia, já era de manhã. Acordei a todos, a visão era promissora. Não havia pessoas, nem desgraça. Era apenas a praia, deserta, paradisíaca.
O trilho voltou a andar direto no chão, e percebemos que depois que chegasse na areia, ele ia subir de novo até o meio do mar... e dali não sabíamos para onde ia, se é que havia uma continuação nos trilhos.

Resolvemos descer na praia e acampar por ali. Mar e floresta significa comida, peixes e plantas. Vimos até um rio que desaguava no mar, onde poderíamos beber água.
Descemos da plataforma enquanto ela continuou a andar vagarosamente em direção ao mar.

Todos se ajeitaram na terra firme, e resolveram montar acampamento. Eu queria ficar longe de água, com medo da maré subir e levar todas as nossas coisas, mas o Rê me chamou para uma área da praia e disse: vamos por nossa barraca aqui.

Eu expliquei o que achava sobre acampar ali na areia, e ele disse: Aqui não vem a maré alta. Olha só!

E quando olhei, tinha uma planta do lado de onde ele deixou as coisas, e essa planta dava frutos: morangos!
Fiquei tão contente de ver morangos frescos depois de tanto tempo. Peguei um na hora e mordi, ele sorriu pra mim, me abraçou e disse: sabia que você ia gostar dos morangos.
E ficamos ali, abraçados, vislumbrando uma nova era. Fim.

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